domingo, 28 de agosto de 2011

Limpezas


Acordo para me atirar
às teias de aranha
que teceste no meu lar

Desfazê-las com um gesto
de samurai
em pó e nada

Arejar aurículos,
ventrículos
e outros recantos
do que resta do teu cheiro,
dos teus passos

Do eco ignóbil
da tua mentira.

Engodo

À mesa do jantar, uma converseta sobre blogues descambou na curiosidade de se saber que raio pesquisavam algumas pessoas que por cá calharam ao engano. Fui alvo de toda a galhofa quando confessei que aqui vem parar muita gente que procura por 'barco encalhado' e 'clister'.

Sim, que querem, ambos os temas são referidos por aqui algures.

Mas há por aí outras palavras que trazem até nós potenciais leitores. À fartazana. Basta escrever aqui alguns nomes, por exemplo. Cristiano Ronaldo. Michael Jackson. Amy Winehouse. Harry Potter. Se calhar, Sócrates ou Passos Coelho também resultavam - mas será a escrita da alma algo que possa prender quem anda com a alma amarfanhada pela política nacional?

Ou então silabar aquelas palavrinhas que, ao que dizem as estatísticas, geram visitas como pãezinhos quentes: sexo; pornografia; erotica; calorias; dieta; astrologia; horóscopo; jogos - claro, jogos! -; crédito; grátis; emprego; amor, amor, amor, amor, amor; haxixe; herpes; meteorologia; tatuagens...

Se aqui chegou ao engano, graças a este engodo de quem tem sono e lhe apetece parvoar (o Priberam não reconhece este verbo, nem sequer esparvejar, o que é pena, pois que é lindo e há tanta gente a conjugá-lo...), não peço desculpa. Foi para isso que o escrevi. Mas atrevo-me a sugerir que se entretenha com alguns posts anteriores. Ou talvez posteriores - sei lá quando vai cair nesta teia de aranha.

Quem sabe se reconheça nalguma frase ao acaso. Quem sabe não. Quem sabe volte. Será bem-vindo, obviamente.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Closet


Arruma-se o amor
no roupeiro grande
com os casacos de inverno
que não voltam a fazer falta
tão cedo.

Talvez encontres no bolso
um papelito com o meu nome
quando o voltares a vestir.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Orquídeas mariposa


Quero palavras frescas e não as tenho,
gastas que estão nos diálogos diários
do tudo e do nada
perdidas no corropio
entre a novela da noite
e o facebook do dia
abandonadas na troca por miúdos
que é precisa para me entenderes

Quero palavras poderosas
capazes de tirar de mim o que resta de ti
de adoçar o amargo de boca
que o teu nome encerra
de esconjurar as lágrimas que já nem caem
antes se alojam nos aurículos
e ventrículos que o raio x provou serem
um duplex exagerado para o bairro
onde se alojam

Tenho o coração tão grande
e não consigo deixar-te perdido numa gaveta
onde não te reencontre senão
quando o senhor alemão já não me permitir
a memória exacta do sofrimento
que me ofereceste.
Podiam ter sido orquídeas, mais orquídeas,
que ainda ali tenho o vaso das outras
à espera que voltem a dar flor

domingo, 7 de agosto de 2011

sexta-feira, 5 de agosto de 2011